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O título indica desgraça - para qualquer um, uma crise é uma desgraça. Remete a certo um rompimento negativo, instaura um clima de caos. Mas não vejamos assim de uma maneira tão negativa. Para designers, a crise pode ser menos pior (ou melhor) do que parece ser, e até melhor do que é de fato para os outros - economistas e administradores que estão dando voltas sem ter certeza de exatamente para onde ir.A Exame desta semana traz um gráfico pequenino na parte de Gestão & Idéias. Não há nada sobre o gráfico além do que está de fato escrito no curto parágrafo antes dele. Confira abaixo:O importante é cortar custos, mas nenhuma empresa pode parar de andar pra frente. A pior coisa a se fazer em uma crise é ficar parado esperando a crise passar - ela te arrasta como um furacão arrasta uma casa, ali, estática. É exatamente o que mostra a pesquisa acima. A área em que se planeja fazer menos cortes é justamente a de Pesquisa e Desenvolvimento.Quando li esta pesquisa, na paz do meu final de semana no campo, lembrei de um artigo do Lincoln Seragini, no site da Rede Design Brasil, que li na sexta-feira, e ia postar aqui essa semana. Ele faz uma análise bem bacana sobre design em tempos de crise. Enumera diversos benefícios que o design pode trazer em um momento como o que estamos vivendo - não vou transcrever, pois recomendo a leitura do artigo completo, mas vou colar a conclusão, que acho que resume bem o artigo."Para finalizar, voltando ao tema do artigo, o design gosta de crise porque crise é sinônimo de problemas e oportunidades e o design se dá bem com os dois."
O investimento em desenvolvimento de produtos, de serviços, em pesquisa, tecnologia, em design não vai cessar com a crise. Esta é uma oportunidade ímpar para novos saltos, novas soluções, novas saídas.
E por isso, respondendo ao comentário da Bruna no último post, acredito que, por mais que a venda de produtos sustentáveis tenha caído neste momento imediato após a crise, por serem mais caros, acredito que, quando a venda destes produtos voltar a crescer, crescerá de maneira muito mais estruturada, pois eles representarão muito mais do que a sustentabilidade ambiental e social - esses produtos irão representar um novo momento de consumo, sustentável, responsável, em uma economia real. Acredito sim que eles podem sim ser ícones da retomada do crescimento, tanto nos países desenvolvidos, que precisam de um novo referencial, quanto nos países em desenvolvimento, que precisam se reinventar a cada dia para concorrer com os produtos que vêm de fora e manter suas economias crescendo as altas taxas.
Para terminar, quero agradecer a todo mundo que vem lendo, comentando, enriquecendo esse espaço aqui com argumentos, links, informações novas! Minha intenção aqui não é postar verdades absolutas, mas sim levantar temas que acho que, muitas vezes, ficam de fora das discussões cotidianas dos designers.
Dando continuação à discussão sobre o preço da sustentabilidade, que começou aqui, com o post dos supercompactos, pulou para outro blog, passou pelo parelelas (grupo de email de alunos e ex-alunos da Esdi), e continuou aqui depois, nos comentários do último post, vou comentar uma matéria que há muito me planejei para comentar, mas acabei esquecendo dela, que ficou perdida em meio ao bolo de revistas bagunçadas no meu quarto.
A matéria saiu no Guia Exame de Sustentabilidade 2008, que ganhou novo nome em 2007, quando sustentabilidade já era o termo da vez no mundo corporativo, mas é o antigo Anuário de Responsabilidade Social da Revista Exame. Vou colar aqui apenas alguns trechos, e recomendo a leitura da matéria completa. Clicando na imagem ao lado, você pode ver os resultados da pesquisa em gráficos, que não estão disponíveis na versão online
O problema é o preço
A maioria dos consumidores se diz preocupada com questões ambientais, mas apenas um terço pagaria mais por um produto ecologicamente correto
(...) O levantamento, realizado em setembro, ouviu 200 moradores da cidade de São Paulo - homens e mulheres com idade entre 20 e 50 anos e renda familiar mensal entre 5 000 e 10 000 reais. De acordo com o levantamento, 74% dos entrevistados consideram-se consumidores preocupados com questões ambientais e 59% afirmam que produtos com apelo ecológico influenciam sua decisão de compra. Apesar das boas intenções, na prática o comportamento desse grupo é outro. A pesquisa revela, por exemplo, que 70% dos entrevistados desistem de comprar produtos com selo ambiental caso eles custem mais do que similares sem a certificação verde. Além disso, 47% dos consumidores afirmam que não deixam de comprar um produto mesmo sabendo que ele é prejudicial à natureza.
(...)
Segundo especialistas, no Brasil a disseminação do consumo consciente depende, sobretudo, do aumento do poder aquisitivo da classe C. "Essa camada da população está encantada com o poder de consumo recém-adquirido", diz Thiago Lopes, gerente de planejamento da agência de publicidade Talent, que acaba de concluir um estudo no qual detectou nesse público certa indiferença em relação ao consumo orientado por valores responsáveis. "Não surte efeito algum falar em sustentabilidade quando o que essas pessoas querem, no momento, é realizar o sonho de ter um carro na garagem", diz Lopes.
Esses dados mostram que, sustentabilidade de fato, no Brasil, ainda é para poucos - seja por que ela dói um pouco mais no bolso, seja porque ainda não há uma consciência coletiva da causa. Porém, logo após, a matéria continua, analisando o mercado potencial para estes produtos:
Apesar da barreira econômica, seria arriscado para qualquer empresa ignorar a parcela de consumidores que seguem a cartilha do consumo responsável - um terço da população entrevistada pela pesquisa do Quorum Brasil. Entre os principais motivos citados por esses consumidores para a compra de produtos com apelo ecológico estão a preservação da natureza e a preocupação com o futuro da próxima geração. "A tendência é que o número de pessoas dispostas a assumir tais valores aumente", diz Heloísa Mello, gerente de operações do Instituto Akatu, organização não-governamental que promove o consumo consciente. Em pesquisa realizada há dois anos, a entidade verificou que 33% dos consumidores brasileiros são conscientes - têm um bom grau de percepção dos impactos coletivos ou de longo prazo em suas decisões de consumo e não se atêm aos aspectos econômicos ou aos benefícios pessoais imediatos.
Na minha opinião, a sustentabilidade e o consumo consciente são de fato o caminho a ser seguido. Ainda mais agora com a crise. A tendência é que as pessoas, que agora não tem mais tanta oferta de crédito para investir em produtos supérfluos, com ciclo de vida reduzido, pararão para pensar um pouco mais antes de fazer suas compras - e a sustentabilidade pode entrar como um grande diferencial nesta escolha.
O desafio para os designers, neste momento, é compensar, no projeto, o custo mais alto que estas matérias primas têm no mercado. Projetos cuja produção seja mais eficiente e que diferenciem-se de seus concorrentes não apenas por serem ecologicamente corretos, mas por terem algum outro valor agregado e preço final competitivo é o objetivo a se atingir.
Devido à resposta do blogueiro Anderson Leal ao meu último post no Blog Tá Aquecendo me senti na obrigação de vir aqui prestar um breve esclarecimento.Não sou contra supercompactos - são sim a solução para o mercado automobilístico. E admiro a indústria automotiva européia, que esta anos a frente da americana no que tange a inovação - tanto que ninguém está falando sobre os problemas da Fiat para sobreviver - e sim da possibilidade desta assumir uma participação significativa na Chrysler.
O fato é que, trazendo estes carros por R$ 60.000, desvia-se do objetivo de ser uma alternativa "às carroças gigantescas devoradoras de combustível, carros luxuosos com 5 lugares para serem usados 90% das vezes por uma só pessoa" e passam a ser caixinhas luxuosas de 2 lugares. Com um valor absoluto quase 6x maior do que ele custa ao público europeu, o propósito de ser uma alternativa é posto em cheque.
E quanto ao comentário do Anderson sobre "o que chamam de design" - depois de estudar durante alguns anos o assunto e trabalhar na área, tenho cada vez mais certeza que, design, em seu sentido mais amplo, como citei, é uma atitude projetual ampla - e ai dentro está a inovação, a busca por novos combustíveis, novas tecnologias - e não só o apelo visual.
Enquanto design for visto apenas como "deixar as coisas bonitas" - visão predominante entre os executivos Brasileiros - e não como uma ferramenta de projeto capaz de otimizar negócios de todos os tipos - visão predominante dentre executivos do primeiro mundo -, o design e os designers brasileiros continuarão desvalorizados.
Já dizia um amigo meu - Quanto mais queijo, menos queijo. Ele deve ter lido isso em algum lugar, mas a equação é simples: Quanto mais queijo, mais furos; quanto mais furos, menos queijo; logo, quanto mais queijo, menos queijo. No caso aqui, a equação é um pouco mais difícil de entender. Quanto mais dinheiro, menos carro.A indústria automobilística vive um momento bastante delicado no mundo inteiro - a aposta em países em desenvolvimento é um consenso entre a grande maioria das montadoras. E não só entre as montadoras. O mundo vira a cara pro BRIC, esperando que deles, saiam coelhos brasileiros, russos, indianos e chineses da cartola!
Sucesso na Europa, os supercompactos estão chegando ao Brasil. Até o fim do ano, os 3 principais modelos do Velho Continente terão representação e venda oficiais em terras tupiniquins. 3 carros, 3 montadoras européias de renome: BMW, Fiat e Mercedes. Vale enfatizar que são européias, pois nos EUA a coisa tá feia! O Salvador Obama falou que por ele, a concordata é a solução para a GM.
A aposta dos 3 modelos é, basicamente, design. Em sua concepção mais geral. Foram carros projetados para ter um forte apelo visual, baixa potência e baixo consumo de combustível. Cumprem a promessa com afinco. Mas valem o que custam?
A Mercedes divulgou esta semana o preço inicial do Smart no Brasil. R$ 57.900 na versão coupé, e R$ 64.900 na cabrio - respectivamente, com teto rígido e conversível. Na França, por exemplo, a versão coupé sai por 9.900 euros (R$ 30.432), já a conversível por 13.450 euros (R$ 41.345). Ignorando a comparação de valor entre as duas moedas, o carro no Brasil sairá por 5.85 vezes mais moedas locais do que custa na Europa.
Será que o design, neste caso, será capaz de agregar tanto valor assim, a ponto de justificar pagar-se aproximadamente R$ 60.000, por um carro 1.0, de apenas dois lugares? Nem mesmo os executivos que estão investindo nessa empreitada têm certeza.
Me parece mais uma atitude desesperada, do que um investimento pensado.